17/11/2009

Alguem escreveu:

...."Ninguém gosta de uma pessoa apenas pelas qualidades que esta tem, caso contrário todos os honestos, simpáticos, bonitos e não fumadores teriam uma fila de pretendente à porta.
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....Com o amor não se podem fazer contas, este não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar...
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....Ninguem ama outra pessoa só porque ela se veste bem e é fã dos Xutos & Pontapés... isso são apenas referências. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo desassossego que provoca... Ama-se pelo tom de voz, pela maneira como os olhos piscam, pela fragilidade que revelamos quando menos esperamos...
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....Era demasiado fácil se o amor fosse uma fórmula: 'eu linda' + 'tu inteligente' = 'dois apaixonados' Não funciona assim, ama-se justamente pelo que o amor tem de indefinivel.
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....Bonitos e elegantes existem aos milhares, generosos há por aí às pencas, bons motoristas e bons pais de família então nem se fala... mas ninguem consegue ser da maneira que o amor da tua vida é...*"

Uma surpresa...


Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente... longamente.
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Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misterioras
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.
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Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te longamente como dói
desembarcar nas ilhas misteriosas.
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Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas...
...
Manuel Alegre
'Contar-te Longamente'

'O sal no corpo'

....A mãe e a mulher não gostam do sal no corpo. A amante sim.
....Toca à mãe e, anos mais tarde, à mulher, lavar as fronhas dos travesseiros e os lençóis da cama manchados da água salgada que nos escorreu do nariz durante a noite. Toca à mãe olhar para a camisola que foi a nossa prenda de Natal e, anos mais tarde, toca à mulher pegar no pijama Armani que nos ofereceu no aniversário de casamento, toca a elas descobrir que as cores de desbotaram onde o sal atacou, que o dinheiro gasto foi dinheiro mal gasto. A mãe e, anos mais tarde a mulher, não gostam do sal no nosso corpo porque lhes recorda o amor que temos pelo mar. O sal que encontram no nosso corpo é uma violência à privacidade delas, porque nem dentro da própria casa conseguem esquecer o mundo que nós temos lá fora. O sal no corpo é a equivalência física, táctil, sensorial da obsessão no espírito, da paixão infinita que nos percorre a existência.
....A amante, essa, acha engraçada a sugestão de espaços abertos e horizontes luminosos na pele áspera e salgada. Sente-se transportada a um universo de vento e sol, e a ela não lhe importa se ele sabe ou não sabe a mar. Há qualquer coisa de inédito nesta pele que podia ser de um marinheiro irlandês, de um pescador da Sicília, de um pirata sarraceno. As suas fantasias levantam voo com aquela pele. Quando a ponta da língua dela circula pelo gume da orelha dele, quando os lábios se poisam na nuca, quando as pontas dos dedos dele entram pela boca dela, então a saliva dela desce a garganta reforçada com um tempero vital e livre - a saliva que lhe desce pela garganta traz sal.
....É assim desde que o mundo existe: a mãe e, anos mais tarde, a mulher recolhem as roupas por lavar, toleram os atrasos à hora das refeições, suspiram com o mau feitio dele nos dias de neura, suportam o suor no corpo; a amante recolhe o melhor, recolhe o sal à flor da pele.
....Eu gosto de adiar o duche para o dia seguinte, gosto de deixar o sal no corpo algumas horas, dum dia para o outro, o tempo que é preciso para corroer as impurezas enfiadas nos poros.
(...)
....Se quiserem conquistar a rapariga dos vossos sonhos, não lhe ofereçam flores nem lhe mandem cartas - convidem-na para um jantar em vossa casa. Algumas boas receitas que servem apenas de aperitivo. A sedução infalível virá depois, quando ela poisar os lábios na vossa pele. Tenham é o cuidado de convidá-la num dia em que forem ao mar. E façam como eu: não tomem banho depois do surf.

Gonçalo Cadilhe
No Princípio Estava o Mar

03/11/2009

se um dia voltasse atrás...


Por inúmeras vezes me pus a pensar no que mudaria se um dia voltasse atrás no Tempo e nunca cheguei a qualquer conclusão. Estou certo de que não sou o único a quem isto acontece, muito pelo contrário. No entanto não tenho, nem nunca tive, qualquer arrependimento de nada do que pertence ao meu passado.

Como toda a gente, já tive dias que desejei que nunca terminassem, e dias que, de tão maus que foram, não desejaria a ninguem; guardo na minha alma momentos inesquecíveis e outros que, se pudesse, forçaria ao esquecimento. É por estas últimas recordações que não por poucas vezes pensamos: 'se eu pudesse voltar atrás...' seguindo-se um enorme suspiro e um silêncio que em nada apazigua a dor que cada um desses fragmentos de memória nos causou... (enfim)

Não faz parte do que sou lamentar-me do que não me correu da melhor forma até hoje. Sei (quase) todos os erros que cometi ao longo da minha curta experiência de vida: uns, sem dúvida que poderiam ter sido contornados se tivesse dado ouvidos aos meus pais e se a pressa que tive em crescer tivesse sido mais contida; os outros... os outros fazem-me pensar até que ponto é um erro dar tudo o que temos e não pedir nada em troca. Sim, é um erro... mas não faria nada de forma diferente, não voltaria atrás, não mudaria a mínima coisa. Todos os meus erros têm algo em comum: a pessoa que sou hoje.

É facílimo lamentarmo-nos e desculparmo-nos pelos 'erros' que cometemos, muito mais difícil é desculpar quem os cometeu connosco. A esses, eu desculpo e agradeço, mas 'se um dia voltasse atrás', fazia FastForward...