29/05/2009

Lx Sessions...


... coming up. Stay tuned!

22/05/2009

21/05/2009

... ou somente impossíveis.


"Do meu quarto andar sobre o infinito, no plausível íntimo da tarde que acontece, à janela para o começo das estrelas, meus sonhos vão por acordo de ritmo com distância exposta para as viagens aos países incógnitos, ou supostos, ou somente impossíveis."
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Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

19/05/2009

formas de estar...


Não sei se cheguei a pregar olho, mas estava completamente ansioso desde o dia anterior. Mais uma vez, fiz tudo à pressa: vesti as calças, calcei-me enquanto punha uma t-shirt, comi uma maçã, lavei os dentes, peguei nas cenas e saí! O percurso é sempre o mesmo, sozinho ou acompanhado, só que desta vez, o êxtase que sentia era muito maior e completamente diferente. Só me apetecia correr, gritar, abanar quem me passava perto!
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Chegados ao destino, o que vimos despertou sentimento igual em todos nós: um misto de acalmia, perfeição e adrenalina! É como se o Mundo parasse e num segundo conseguissemos ver tudo o que ele tem para oferecer aos seres minúsculos que somos. A excitação tomou conta de nós, abraçámo-nos, começámo-nos a rir, não queríamos acreditar! Todos queriam ser o primeiro a chegar e se fosse preciso, naquele momento, percorriamos qualquer que fosse a distância que havia no meio. Lá fora estava Ela, e certamente que todos lhe daríamos nome diferente. Eu chamei-lhe vida... pela mescla de sensações que em nós desperta e despertou, por querer, tal como a vida, que dure eternamente em mim, em ti, em qualquer um de nós...

Não esperes por mim...


...apressado, cheguei à porta velha e perra daquele bar que todos os dias me esperava. Olhei uma última vez para trás para saber se ainda me seguiam. Entrei, e o ar bafarento que me abraçava indiciava-me a segurança de um lar. Procurei a mesa mais protegida e confortável, sentei-me, pedi um café que me fizesse por momentos repousar e acendi um acolhedor cigarro...

18/05/2009

Doca de Belém


The l(E)ast one...


Lomo World!




Pepe e Lupe

... ao subir aquela última planície, avistei, finalmente, gente. Deste vez não era uma miragem, era de facto alguem que alí estava.
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Debaixo de um sol tórrido que me fazia ajoelhar como se me obrigasse a prestar clemência, agarrava com as mãos o solo daquela planície desolada. O pó entranhava-se nas feridas e bolhas que o calor e a falta de água me fizeram. Eu era o último, era eu o sobrevivente, e apesar de naquele momento estar de joelhos e sem forças, não me deixaria entregar às aves de rapina que me rodeavam por sentirem o meu cheiro a morte.
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Ao longe, aquele homem tratava das suas vacas, e eu fitava-o enquanto me arrastava e rastejava na sua direcção pelo pó amarelo e desértico. Era a minha última esperança, mas a força diminuía a cada segundo que passava. Sentia-a a abandonar-me enquanto a vida me escapava por entre os dedos... deitei-me, desisti.
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Acordei numa cama. Ao certo não sei quanto tempo passou e a última lembrança que tinha era do sabor da terra morna nos meus dentes. O que se passou? Levantei-me, andei em direcção à janela e vi novamente o vaqueiro. O dia parecia exactamente o mesmo e o homem encontrava-se na mesma posição em que o vira pela última vez...
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O seu cheiro a suor e a humidade espalhavam-se pelo ar. Ao longe sentia-se o peso da sua camisa envolto em tranpiração. De mãos secas e ásperas pelo trabalho árduo, o seu hálito saía mais quente que o próprio calor. Seus pés descalços e marcados pelo solo fervido não pareciam ficar abalados com os 43º que se faziam sentir ao meio-dia. Este era Pepe, um vaqueiro mexicano com cerca de 35 anos que me dizia não conhecer mais do que a pequena aldeia a 2 km de sua casa e as suas vacas...
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Uma voz de fundo fez-se ouvir. Uma voz feminina, que falava um espanhol melódico ainda que quase impossível de tirar qualquer ideia. Pepe disse-me que era Lupe, sua mulher.
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Lupe não tinha mais que 30 anos. Olhos cor de mel, da cor da sua pele. Os cabelos eram muito longos e pretos. A sua face queimada do sol escondia a infelicidade da vida só e trabalhosa que sempre tivera. No entanto, as suas mãos eram suaves, suaves como as formas que o seu corpo tinha e que lhe faziam lembrar, de forma nostálgica, a mulher bela que fôra. Os seus pés transpareciam a dureza dos caminhos que percorrêra na vida. As suas unhas pintadas eram a forma de expressar o desejo, cuidado e preocupação com a beleza. Por duas vezes a vi de baton, um baton de cor rosado e que chamava a atenção para os lábios secos que pediam para serem beijados. A sua maneira de falar, que nunca entendi, ficou-me até hoje guardado na memória. Era como se quando falava, falasse só para mim, só para o meu coração...
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Fiquei cerca de um mês em casa deles. Pouco falámos e pouco mais soube além do que via, cheirava e sentia. Um dia, Pepe agarrou-me no braço e levou-me à aldeia mais próxima. Nunca me perguntaram o que me acontecera, e eu, também nunca o quis dizer...

16/05/2009

Padrão dos Descobrimentos




Num povo de crenças... o que é que te move?

I want to...


... GROW OLD!

Fernão Capelo Gaivota


"A maior parte das gaivotas não se preocupa em aprender mais do que os simples factos do vôo — como ir da costa à comida e voltar. Para a maioria, o importante não é voar, mas comer. Para esta gaivota, contudo, o importante não era comer, mas voar.


Antes de tudo o mais, Fernão Capelo Gaivota adorava voar"...


Richard Bach

13/05/2009

As boas ideias são como as pessoas giras...

... estão sempre em todo o lado, menos aqui.

Presença...


O vazio em que nos encontrávamos era de tal forma constrangedor que nada o parecia conseguir preencher. Estávamos apenas nós e nem a nós nos sentíamos, nem nos queríamos sentir. O frio entranhava-se, impunha-se e abraçáva-nos por não nos querermos abraçar.
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Num momento, num ápice, num segundo apenas, entendemos que nós próprios eramos o obstáculo e não o vazio. Nós faziamos o frio, acolhiamos a ausência e a solidão ao invés de nos entregarmos quais virgens que pela primeira vez se oferecem numa ânsia maior que a própria castidade...

12/05/2009

High Water Trailer

A story about paradise...

O copo que queria ser de cristal



Era apenas um copo. Um copo como tantos outros: de vidro, forma cilíndrica, tubular... No entanto, este queria ser mais, sonhava com isso, suspirava e lamentava o fado que a vida lhe oferecera.
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Na prateleira do armário, estremecia e escondia-se quando abriam a porta, tinha medo que o escolhessem, que o tirassem, que o usassem, não por não querer ser usado, mas pelo medo que tinha das alturas. Assim que o armário se fechava e ele não era o escolhido, o seu coração acalmava, tudo voltava ao normal, ao mesmo escuro bréu, e deitava-se, sozinho, a pensar que podia ter sido o que não era.
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Na realidade, este copo, um copo como tantos outros, queria ser de cristal, e amaldiçoava todos os dias o facto de ser igual a todos os que haviam na prateleira. Era criticado por isso, mais, era muitas vezes enchovalhado, amedrontado e ameaçado: "um dia que se esqueçam de fechar o armário, empurramos-te. Pensas que és mais que nós? Não és, e mais tarde ou mais cedo, vais ser usado, vais ter que ser lavado no lava-loiças ou na máquina de lavar. Vais acabar por ficar riscado, velho e... sozinho, substituído por outro".
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O copo ouvia e nada dizia. Tremia so de pensar que tudo aquilo lhe podia acontecer: "Porque nasci eu assim? Porque não sou de cristal? Os copos de cristal não se riscam, não ficam velhos, não são substituidos", pensava. A verdade é que no momento em que nascera fôra posto num caixote e nunca estivera sequer exposto para venda. Foi comprado com mais 19 iguais a ele, todos na mesma caixa, e apenas tinha sentido o toque humano no momento em que passou da embalagem para a prateleira onde agora estava.
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Um dia, um velho copo sentou-se com ele e tentou explicar-lhe o seu papel, ainda que de vidro: "Tu não sabes o que é arrepiarmo-nos com água fria, não fazes ideia do que é sermos "beijados" por quem nos escolhe, sentirmos a mão quente de alguem que precisa de nós. Pensas que não tenho medo de caír? Que não tenho medo de me estilhaçar no chão? É o nosso pior pesadelo, mas é algo com que temos que viver, e isso... é viver, mais do que sonhar", disse.
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O copo ficou a pensar no que o velho lhe dissera durante dias... de facto, ele nunca poderia ser outra coisa que não um copo, e mais do que um copo descartável, ele era novo, de vidro e com toda uma vida pela frente. Assim, levantou-se, colocou-se na parte da frente da fila, de tal forma que parecia empurrar a porta do armário. A ânsia que sentia por querer sentir tudo o que não sentira desde que entrou naquele armário guiavam-no, e então, assim que a porta se abriu, o copo, com uma vontade desmedida, foi atrás e numa queda vertiginosa sentiu que nunca iria sentir nada, nem sequer a possibilidade de ser "beijado", ficar velho ou riscado... e partiu-se em mil pedaços...

Lomo World!